Aula 07 - Performance e Videoperformance
Nessa semana:
A primeira parte é uma sequência, sem muita conversa, de vídeos editados pela orientação de responder três perguntas: Quem performa? Como performa? Onde performa?
Na segunda parte pensamos sobre alguns conceitos importantes para entendermos a performance, enquanto retomamos as imagens da parte 1: o conceito de presença, de evento, de corpo e corporificação, performatividade e performance.
Por quem passamos?
- Ventura Profana, Alex Hamburguer, Márcia X, Francesco D’Avila, Joan Jonas, Gilbert e George, Tiago Sant’Ana, Zhang Huan, Zierle Carter, Jota Mombaça, Guto Lacaz, Meyerhold, Grotowski, Judith Butler, Austin, Marleau-Ponty, Erika Fischer-Lichte, Castiel Vitorino, Tales Frey, Tabita Rezaire, Carlos Martiel.
Destaques:
I
Performance: como um evento entre performers e espectadores – isso é, uma situação que não é fixa ou transferível, mas efêmera e transitória. É o que gera os significados, sem ser antecipada por eles. Ou seja, é algo que uma definição como a que eu estou tentando dar aqui não vai conseguir capturar inteiramente, mas que envolve ações que repercutem no mundo, que envolvem multisensorialidade, corpo e modos de ser perceber a presença.
II
A performance redefiniu dois relacionamentos fundamentais na relação da arte com os sentidos e significados das coisas:
1) o relacionamento entre sujeito e objeto, observador e observado, espectador e ator.
2) a relação entre a materialidade e o jogo de sentidos presente nos elementos da performance.
A transformação do relacionamento entre sujeito e objeto está conectada de perto com a mudança de relacionamento entre materialidade e o jogo de sentidos e significados da ação, que podemos entender como sua semiótica.
Deixa de ser o principal aspecto da obra de arte a sua existência objeto independente e separado do seu criador para ser interpretado por um receptor , ganhando importância o evento que se coloca em movimento e é finalizado pelas ações de todos os sujeitos envolvidos – artistas e espectadores.
Abre a possibilidade para que os participantes experimentem uma metamorfose.
III
O que constituiria, então, a presença ou o efeito de presença nessa abordagem?
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Um nível existencial de estar
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Uma qualidade desse estar
(um modo de estar que afirma não só que se está presente, mas que se tem presença, o que não é a mesma coisa)
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Efeito de presença: nesse caso, a impressão da presença se dá ao fato de que as mesmas sensações e percepções que ocorrem na presença real de outra pessoa (ou objeto) são invocadas.
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Investigar o significado é analisar as condições pelas quais esse efeito de presença emerge, analisar o que ele faz possível. Como ele se manifesta?
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O efeito de presença, por fim, tem origem em um lugar onde o senso de tempo e espaço é ficcionalizado, em uma realidade que se desdobra fazendo os sentidos palpáveis, gerando um coeficiente carnal. Ou seja, essa dimensão da carne, mesmo quando estamos mediados pela rede, é bem importante para pensar a performance.
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A presença, enfim, é algo que se constitui em uma rede complexa de relacionamentos que o sujeito estabelece com o mundo (físico e digital) que ele habita. Integral a presença é o que está diante ou antes do sujeito, tanto em tempo quanto em espaço. Também é integral a performance do sujeito como parte desse processo diante de sua ecologia e ambiente.
IV
A performance chama atenção para as possibilidades do encontro entre um eu que percebe o mundo pelo corpo atento multisensorialmente e um outro que é co-presença nessa mesma postura: a performance produz essas possibilidades e as força a aparecer nessa relação cara a cara, ainda que não literalmente, mas sempre colocando de alguma forma um diante do outro. Esse encontro seria o evento.
V
Corporificação: do teatro baseado em literatura, passando por Meyerhold, Grotowski e Marleau Ponty.
A materialidade específica do corpo emerge da repetição de certos gestos e movimentos; esses atos geram o corpo como algo marcado culturalmente, etnicamente, sexualmente, individualmente.
A mudança dos “atos de discurso”(Austin) para os “atos corporais” (Butler) implica uma diferença crucial.
Enquanto Austin enfatizava os critérios do sucesso/fracasso para analisar um ato discursivo, a Butler investiga as condições fenomenais para a corporificação.
Ela cita Merleau-Ponty que não enxerga o corpo como meramente uma ideia histórica mas como um repertório de infinitas possibilidades, isto é, “ um processo ativo de corporificar certas possibilidades culturais e históricas”.
Butler insiste na constituição performativa da identidade que ocorre no processo de corporificação, definindo tal como “um modo de fazer, dramatizar e reproduzir uma situação histórica”
A repetição estilizada de atos performativos corporifica certas possibilidades históricas e culturais. Atos performativos geram o corpo marcado culturalmente e historicamente, bem como por sua identidade.
V
- Na videoperformance, o vídeo não é apenas um registro, mas a potência da experiência formal, dotada de qualidades expressivas à própria performance em diálogo com o meio audiovisual.
- O performer concebe o seu produto artístico essencialmente para a câmera. Enquadramento, cor, planos audiovisuais são pensados para o desenvolvimento da ação, do tempo e espaço que constituem a performance como objeto artístico.
- A videoperformance cria uma ficção? Não necessariamente, mas um ambiente que subordina o espaço e o tempo à lógica da imagem, a qual, por sua vez, submete nosso corpo a uma situação experiencial e à efeitos de presença.