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  • Foto do escritorRuy Cézar Campos

[Arquivos dos Cabos] Cabos submarinos e clima de guerra na imprensa brasileira (1898-1948)

Atualizado: 11 de jul. de 2023

Nos últimos dias tem repercutido na imprensa internacional o temor ocidental de que a Rússia venha a espionar ou sabotar os cabos submarinos que conectam países europeus e os EUA. Essa tensão era mais comum no período da Guerra Fria, mas ao longo da última década ela retornou em meios as tensões que se estabeleceram e se agravaram no contexto geopolítico global.

Tenho pesquisado há alguns anos arquivos dos cabos submarinos no Brasil e achei que pode ser uma oportunidade interessante de compartilhar material histórico relacionado ao clima de guerra e cabos submarinos. Seja no caso de sabotagens concretas ou de temores exagerados,


Selecionei algumas notícias, a mais antiga de 1898 e a mais recente de 1948.


A maioria anuncia a sabotagem de cabos submarinos:


Em 8 de agosto de 1914, por exemplo, o jornal O Dia (SC) anuncia que "os ingleses cortaram o único cabo submarino alemão que ligava a América à Europa, de modo que hoje todas as comunicações estão nas mãos dos ingleses. Estes exercem rigorosa censura, pelo que só da Inglaterra virão as notícias precedentes do theatro da guerra".


Em 31 de março de 1916, por vez, O Jornal (MA) anuncia que as comunicações entre Inglaterra e Holanda foram interrompidas pela sabotagem alemã de um cabo submarino que existia entre os dois países.

Em 11 de dezembro de 1941 se anuncia no Estado (SC) e no Diário de Pernambuco (PE) que os japoneses cortaram o único cabo submarino, localizado em Midway, que ligava os Estados Unidos a Hong Kong.




Em 14 de julho de 1944 o Diário de Pernambuco (PE) divulgou que "as forças internas francesas cortaram o cabo subterrâneo que liga Paris a Berlim, em um ponto nas proximidades de Nancy, segundo fontes autorisadas francesas desta capital."



Curiosamente, em 11 de julho de 1898, o Jornal Pequeno (PE), publicou informações sobre como sabotar um cabo submarino:




"Não deixa de ser curiosa a forma como se pesca e corta um cabo submarino, operação que agora se falla muito, por motivo da guerra entre a Hespanha e os Estados-Unidos.


O peso de um cabo é de 600 a 700 kilogramas por kilometro. Concebe-se que em tempo de guerra principalmente não é fácil corta-lo em um ponto qualquer. Em sítios de grande profundidade, sem sequer se tenta esta espécie de sondagens. Naturalmente, nas proximidades das costas a operação de levantar um cabo apresenta menores dificuldades; porém o navio está ahi mais exposto a ser alvo do inimigo.


É preciso que o navio encarregado deste serviço leve a bordo cabos de grande comprimento e de uma solidez a toda prova.


Estes cabos, entrançados com fio de aço do mais resistente, coberto todo de cânhamo, tem seis centímetros de diâmetro e podem supportar um peso de 30 toneladas.


Acrescente-se a isto um verdadeiro arsenal de ganchos com as formas mais differentes, mas que podem classificar-se em três espécies principaes. Uns têm forma própria para escavar no fundo do mar e apanhar o cabo.


Outros, á maneira de pinças, servem para os apanhar com mais força, depois de levantados pelos ganchos do primeiro modelo. Falta apenas o gancho rector. Tem a forma parecida com a de um barrete, com um reboldo de aço delgado, mas insuficientemente poderoso para destruir o cabo.


Nunca é bastante um só corte para separar uma barra metallica desta qualidade e de vinte e seis milímetros de diâmetro.


A tripolação, a força dos braços, agita este instrumento cortante, que aperta o cabo levantado até que o parte em dous."


Ainda, em 4 de junho de 1942, O Dia (PR) publica a notícia de que "espiões nazi-fascistas agem em nosso país, transmitindo informações por meio do cabo submarino italiano"


Por fim, compartilho uma reclamação publicada em A Federação em 26 de abril de 1916.



"O estado de guerra em que se acha o velho mundo desorganisou por completo o commercio internacional, não só entre belligerantes e neutros, como ainda entre os próprios neutros.


A guerra marítima vem embaraçar as transacções commerciaes quase impedindo o tráfego transoceânico: mas, além della, a situação anormal em que se encontram todos os meios de communicação entre paizes do novo e do velho continente tem, por sua vez, prejudicado extraordinariamente os interesses comerciais dos neutros e interesses de várias espécies, até dos belligerantes aliados únicos que sofrem por isso, uma vez que os imperios centraes têm o seu comércio conosco e com o resto do mundo completamente paralysado.


Ainda agora o resultado provavelmente de um equivoco, traz consideráveis prejuizos as nossas emprezas jornalísticas, emprezas que se acham pelos seus órgãos francamente ao lado dos alliados ao apreciarem a conflagração européa: a casa Levy Leite tem uma encomenda de papel de impressão, pedida com urgência, pelo telegrapho, a Christianis, que não foi entregue à fábrica norugueza. Por que? O telegramma foi escrpto inglez, em claramente, e aceito pela Western. Um segundo telegramma expedido, nove dias depois, chegou ao seu destino... Não há, pois, outra explicação além de um equívoco, de um mal entedido.


Seja como for, os próprios alliados se prejudicarão com as dificuldades que possam vir a ter as emprezas jornalísticas que lhes são sympathicas, pela falta de papel de impressão.


Ahi está uma razão que devia pesar no ânimo dos dignos diretores da Western para que se pudesse tomar qualquer providência no sentido de evitar casos desata natureza. E, quando, infelizmente, por qualquer circunstância, venham a se verificar, não seria de sua política - ao contrário - agir no sentido de obviar os males que delles postam vir a decorrer."



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