A Rede Vem do Mar / The Net comes From the Ocean
Série
[PT]
Se os dados que consumimos e produzimos emaranham nossos afetos na rede digital, como podemos afetar as infraestruturas que possibilitam a circulação desses dados? Como uma abordagem desde o campo da arte e da cultura pode jogar com papéis que ponham em evidência as materialidades da rede e da digitalidade?
A série A Rede Vem do Mar partiu de um interesse em chamar atenção para a infraestrutura da comunicação transoceânica, que faz possível a dimensão atual da digitalidade na cultura e vida global. O processo tem acontecido entre Fortaleza, Angola e Colômbia. O artista experimentou relações corporificadas diversas com as paisagens, as geografias e os vizinhos das infraestruturas de cabos ópticos submarinos, em um esforço por chamar atenção para as materialidades da Internet e as possibilidades de interculturalidade entre cidades conectadas em rede com Fortaleza, especificamente cidades que se encontram em extremos opostos do Atlântico Sul.
[EN]
If the data we consume and produce entangle our affects in digital networks, how can we affect the infrastructures which make data circulation possible? Can an approach from art and culture play with roles to evidentiate digital and network materialities?
The series The Network Comes from The Ocean is interested in calling attention to the transoceanic media infrastructure which makes possible the contemporary dimension of digital culture in our lifes. The process is happening in between Brazil, Angola and Colombia. The artist experimented embodied relations with landscapes, geographies and neighbors of submarine cables infrastructures, in an effort to highlight Internet materialities and intercultural possibilities between cities connected with Fortaleza, specially interested in South Atlantic cities.
A CHEGADA DE MONET
LANDING MONET
Video - 04m06s
Estar presente em uma cerimônia de aportagem de cabos submarinos é testemunhar a união material de nações e mundos, sendo tal evento o mais celebrado na história dos cabos submarinos. De acordo com Nicole Starosielski, a aportagem dos cabos geralmente envolve uma narrativa de conexão e serve a uma função cultural de se celebrar o progresso tecnológico. O presente vídeo possibilita ao seu visualizador estar nessa posição de testemunha da chegada do cabo Monet em Fortaleza, ou como propaga o slogan de marketing da companhia de cabos submarinos, da chegada do futuro na Praia do Futuro.
Being present in a submarine cable landing ceremony is to witness the material union of nations and worlds. Such sort of event is the most moment where celebration is part of submarine cables history. According to Nicole Starosielski, cable landings generally evolves a narrative of connection and serve to a cultural function of celebrating technological progress. This video makes possible to its visualizer to be in this position of witnessing the landing of Monet cable in Fortaleza, Brazil. Also, as propagates the marketing slogan of the submarine cables company: the arrival of the future in Praia do Futuro.
PONTOS TERMINAIS EMARANHADOS
ENTANGLED LANDING POINTS
Video - 09m05s
Na rede global de infraestrutura de cabos submarinos, os pontos terminais são sítios precários, passivos de serem afetados por atores locais, pelo ambiente que os circunda ou por ameaças de segurança. São, portanto, a partir de Nicole Starosielski, pontos de pressão em que microcirculações insignificantes podem possuir um alto impacto sobre a comunicação intercontinental oceânica, contestando a natureza livre de fricção da comunicação global. O artista busca estabelecer um vínculo fenomenológico com esse ambiente de transição da infraestrutura dos cabos submarinos, partindo dos pontos terminais em Fortaleza (Brasil), um importante nódulo na rede do Atlântico Sul Global e onde reside, para os pontos terminais em duas outras cidades com as quais Fortaleza está conectada em rede e que se encontram em extremos opostos do Atlântico Sul: Sangano (Angola) e Salgar (Colômbia).
In the global network of submarine cables infrastructure, landing points are precarious sites, passive of being affected by local actors, by the environment or by security threats. They are, following Nicole Starosielski, pressure points where insignificant microcirculations can pursue a high impact over intercontinental ocean communication, contesting the friction free nature of global communication. The artist looks to establish a phenomenological bond with this environment of transition of the submarine cables infrastructure, departing from landing points in Fortaleza (Brazil), the most important city in the network of the South Atlantic and where he lives, to landing points in two other cities with which Fortaleza is networked and that are in opposing extremes of the Atlantic: Sangano (Angola) and Barranquilla (Colombia).
INFRAESTRUTURAS CIRCUNVIZINHAS
NEIGHBORING INFRASTRUCTURES
Three screens videoinstallation
Como a circulação de videocartas entre jovens que são vizinhos de estações de cabos submarinos pode funcionar como um dispositivo para se disparar inteligibilidades infraestruturais, possibilitando se pensar nas implicações locais das instalações físicas que permitem a telecomunicação intercontinental? Quais as possibilidades de, ao chamar atenção para as escolas circunvizinhas as estações, reconsiderar a significância infraestrutural da educação nas humanidades digitais?
Esses questionamentos orientam a videoinstalação, associada ao desejo de fomentar imaginários infraestruturais, o que Lisa Parks define como modos de pensar sobre o que são, onde estão localizadas, quem controla e o que fazem as infraestruturas midiáticas, por meio do enquadramento dessas e dos sítios que as circundam como objetos de curiosidade, investigação e atenção no que concerne a questões ambientais, socioeconômicas e geopolíticas.
Os jovens de uma escola localizada na Praia do Futuro (Fortaleza/Brasil) enviam um vídeo para jovens de escolas em Sangano (Angola) e Puerto Colombia (Barranquilla/Colômbia), que por vez enviam uma resposta de volta.
[EN]
How does the circulation of videoletters between young people who are neighbors of submarine cable stations can work as a dispositive to trigger infraestructural intelligibilities, making possible to think on the local implications of the physical installations that allow intercontinental telecommunication? Which are the possibilities of, by highlighting schools neighboring stations, reconsider the infrastructural significance of education in digital humanities?
These questionings guide the videoinstallation, associated with the desire to foster infrastructural imaginaries, what Lisa Parks defines as modes of thinking about what media infrastructures are, where they are located, who controls them and what they do, by framing it and its surrounding sites as objects of curiosity, investigation and attention in what concerns to environmental, socio-economical and geopolitical issues.
Teenagers who study in a school located in Praia do Futuro (Fortaleza/Brazil) send a video to teenagers who study in schools located in Sangano (Angola) and Puerto Colombia (Barranquilla/Colombia), and in turn they send their answer back.
VETORES PULSANTES
PULSING VECTORS
Photoinstallation
A instalação apresenta um recorte dos vetores que representam, no mapa global de cabos submarinos, a ligação de Fortaleza com Sangano (Angola) e Salgar (Colômbia), localizadas em extremos opostos do Atlântico Sul e conectadas em rede com Fortaleza. Acompanhando o vetor, imagens realizadas pelo artista das paisagens infraestruturais (estações de cabo submarino, pontos terminais) dos sistema de cabos submarinos nesses três países, assim como de sua presença performativa nessas paisagens.
The installation presents the vectors used to represent the connection between Fortaleza (Brazil) with Sangano (Angola) and Salgar(Colombia) in the global map of submarine cables. Following the vector, one can see images made by the artist of the infrastructural landscapes of the submarine cable system in these three countries, just as well the performative presence of the artist in these landscapes.
A REDE VEM DO MAR
THE NETWORK COMES FROM THE OCEAN
Pop-up exhibition/meta-installation
A exposição site-specific consiste em uma espécie de metainstalação, localizada em um container na Praia do Futuro (Barraca Cabumba) iniciando no dia 31/08 e concluindo no dia 10/09, próximo à estações de cabos submarinos, abordando o tema.
O projeto foi apoiado pelo Edital das Artes 2016 e pelo Edital de Concessão e Apoio Financeiro para Produção e Publicação em Artes da SECULTFOR/Cia. Teatral Acontece.
Site specific exhibition located at Praia do Futuro, around submarine cables stations, the subject of the exhibition. Project supported by two prizes given by the the city of Fortaleza.
UM PORTO INVISÍVEL
AN INVISIBLE PORT
Performance
Performance relacional realizada no contexto do projeto Percursos Urbanos, coordenado pelo artista visual e sociólogo Júlio Lira. Durante uma tarde de sábado, um grupo heterogêneo caminhou e tocou nas infraestruturas de cabos submarinos distribuídas em torno da Praia do Futuro, em Fortaleza.
Relational performance presented in the context of the project Urban Percourses, coordinated by visual artist Júlio Lira. During a saturday afternoon, a heterogenous group of people walked and got in contact with submarine cable infrastructures distributed across Praia do Futuro, Fortaleza.
RELEVÂNCIA DO TEMA
Os cabos submarinos de fibra ótica são infraestruturas sensíveis que sustentam a sociedade conectada em rede, transportando, de acordo com Nicole Starosielski (autora do livro The Undersea Network, sobre o tema), 99 por cento de todas as comunicações digitais, incluindo ligações telefônicas, textos, mensagens de e-mail, websites, imagens digitais, vídeo, e até mesmo televisão. É através de cabos submarinos, e não de satélites, que a maior parte da Internet se torna possível.
Até 2018, 13 dos 223 cabos submarinos existentes no mundo passarão pela cidade de Fortaleza, que se tornou um dos pontos mais importantes na geografia da infraestrutura das telecomunicações no Atlântico Sul, estando potencialmente aberta para descentralizar um sistema bastante centralizado, principalmente a partir dos novos cabos que estão sendo construídos e que conectarão a América Latina a África.
Comumente utilizadas para se referir a Internet, as metáforas da rede ou da nuvem podem tirar nossa atenção e consciência ao fato de que existem geografias, fisicalidades, temporalidades e histórias entre os nódulos da infraestrutura comunicacional. A exposição dialoga, portanto, com um movimento de pesquisadores e artistas que buscam se engajar com essa consciência através de ações artísticas e de pesquisa, estabelecendo ou recuperando vínculos culturais entre os lugares que estão conectados. A Rede Vem do Mar, nesse sentido, busca fortalecer vínculos entre Fortaleza e cidades do Atlântico Sul, ao mesmo tempo em que promove para a sua população uma consciência e educação tanto ambiental quanto geopolítica sobre sua cidade no contexto dos sistemas digitais.