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A Rede Vem do Mar - Exposição

Se os dados que consumimos e produzimos emaranham nossos afetos na rede digital, como podemos afetar as infraestruturas que possibilitam a circulação desses dados? Como uma abordagem desde o campo da arte e da cultura pode jogar com papéis que ponham em evidência as materialidades da rede e da digitalidade?

A exposição A Rede Vem do Mar partiu de um interesse em chamar atenção para a infraestrutura da comunicação transoceânica, que faz possível a dimensão atual da digitalidade na cultura e vida global. Foi um processo de mais de um ano de pesquisa e criação entre Fortaleza, Angola e Colômbia. Nesse processo, o artista experimentou relações corporificadas diversas com as paisagens, as geografias e os vizinhos das infraestruturas de cabos ópticos submarinos, em um esforço por chamar atenção para as materialidades da Internet e as possibilidades de interculturalidade entre cidades conectadas em rede com Fortaleza, especificamente cidades que se encontram em extremos opostos do Atlântico Sul.  

São apresentados quatro trabalhos na exposição: o vídeo A Chegada de Monet; as videoinstalações Infraestruturas Circunvizinhas e Pontos Terminais Emaranhados; e a instalação fotográfica Vetores Pulsantes.  

 

A exposição consiste, afinal, em uma espécie de metainstalação, localizada em um container na Praia do Futuro (Barraca Cabumba) iniciando no dia 31/08 e concluindo no dia 10/09.

O projeto foi apoiado pelo Edital das Artes 2016 e pelo Edital de Concessão e Apoio Financeiro para Produção e Publicação em Artes da SECULTFOR/Cia. Teatral Acontece.

Qual a relevância do tema?

Os cabos submarinos de fibra ótica são infraestruturas sensíveis que sustentam a sociedade conectada em rede, transportando, de acordo com Nicole Starosielski (autora do livro The Undersea Network, sobre o tema), 99 por cento de todas as  comunicações digitais, incluindo ligações telefônicas, textos, mensagens de e-mail, websites,  imagens digitais, vídeo, e até mesmo televisão. É através de cabos submarinos, e não de satélites, que a maior parte da Internet se torna possível.

Até 2018, 13 dos 223 cabos submarinos existentes no mundo passarão pela cidade de Fortaleza, que se tornou um dos pontos mais importantes na geografia da infraestrutura das telecomunicações no Atlântico Sul, estando potencialmente aberta para descentralizar um sistema bastante centralizado, principalmente a partir dos novos cabos que estão sendo construídos e que conectarão a América Latina a África.

Comumente utilizadas para se referir a Internet, as metáforas da rede ou da nuvem podem tirar nossa atenção e consciência ao fato de que existem geografias, fisicalidades, temporalidades e histórias entre os nódulos da infraestrutura comunicacional. A exposição dialoga, portanto, com um movimento de pesquisadores e artistas que buscam se engajar com essa consciência através de ações artísticas e de pesquisa, estabelecendo ou recuperando vínculos culturais entre os lugares que estão conectados. A Rede Vem do Mar, nesse sentido, busca fortalecer vínculos entre Fortaleza e cidades do Atlântico Sul, ao mesmo tempo em que promove para a sua população uma consciência e educação tanto ambiental quanto geopolítica sobre sua cidade no contexto dos sistemas digitais.

Entrevista (em espanhol) para Rádio Uninorte (Barranquilla - Colômbia)

Como foi o processo de produção de cada trabalho?

Para a produção da vídeoarte Pontos Terminais Emaranhados e da instalação fotográfica Vetores Pulsantes, vivi um processo de estabelecer uma relação afetiva e performativa com os bueiros que marcam os pontos de chegada dos cabos submarinos na Praia do Futuro, em Fortaleza; na Praia de Salgar, em Puerto Colombia (Colômbia); e na Praia de Sangano, Cabo Ledo (Angola).

Na rede global de infraestrutura de cabos submarinos, os pontos terminais são sítios precários, passivos de serem afetados por atores locais, pelo ambiente que os circunda ou por ameaças de segurança. São, portanto, a partir de Nicole Starosielski, pontos de pressão em que microcirculações insignificantes podem possuir um alto impacto sobre a comunicação intercontinental oceânica, contestando a natureza livre de fricção da comunicação global. A partir de tal definição se realizou a performance em vídeo e se articulou sua forma de exibição.

Quando penso no processo de produção desses dois trabalhos, me lembro com bastante carinho de Josué, um garoto bastante sensível de 17 anos na comunidade de Sangano, em Angola, que caminhou por todos os lados comigo, apresentando-me os bueiros que se encontram isolados nessa pacata praia ao sul de Luanda, assim como também aos seus amigos e a sua comunidade. Também penso em Tomás e Never, que ficaram comigo mais de uma hora a cavar buracos em busca de bueiros bem escondidos na Colômbia, fazendo literalmente uma ‘arqueologia dos meios de comunicação’.  


Conhecer esses pontos foi uma experiência corporificada de relação com as paisagens, arquiteturas e geografias dos cabos ópticos no Atlântico Sul. Além disso, me proporcionou conhecer as pessoas que vivem ao redor das infraestruturas e falar com elas sobre o projeto, sobre os lugares com os quais estão conectadas por meio de cabos ópticos, sobre a materialidade da Internet, sendo afetado e afetando ao modo que essas pessoas passam a se relacionar e a imaginar as infraestruturas.

 Para a videoinstalação Infraestruturas Circunvizinhas, busquei trabalhar com o vídeo como uma ferramenta relacional para a interculturalidade. Adolescentes que estudam em uma escola localizada na Praia do Futuro enviaram um vídeo para adolescentes que estudam em escolas localizadas em Sangano (Angola) e Salgar (Colômbia), que por vez enviaram uma resposta de volta.

Como a circulação de videocartas entre jovens que são vizinhos de estações de cabos submarinos pode funcionar como um dispositivo para que se disparem inteligibilidades infraestruturais, fazendo possível se pensar nas implicações locais das instalações físicas que permitem a telecomunicação intercontinental? Quais as possibilidades de, ao pensar nas escolas circunvizinhas as estações, reconsiderar a significância infraestrutural da educação nas humanidades digitais?

Esses questionamentos orientam a videoinstalação, associados ao desejo de fomentar imaginários infraestruturais, o que Lisa Parks define como modos de pensar sobre o que são, onde se localizam, quem controla e o que fazem as infraestruturas midiáticas, por meio de um enquadramento dessas e dos locais que as circundam como objetos de curiosidade, investigação e atenção no que concernem questões ambientais, socioeconômicas e geopolíticas.

Com esses trabalhos busco colaborar com o campo de estudos críticos de infraestrutura, criando novas narrativas e experiências sobre os cabos submarinos por meio da arte, com o objetivo de que o público se informe e tenha possibilidades de participação na Internet transnacional, em especial em um sistema de cabos privados, onde a percepção pública pode afetar ao desenvolvimento de novas redes.

Clipping do projeto

(Diário do Nordeste)

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/interligados-pelo-mar-1.1812717

(El Heraldo - Jornal
Colombiano)


https://www.elheraldo.co/entretenimiento/territorios-que-se-encuentran-y-se-reconocen-traves-del-arte-376735

 

(Ver Angola – Portal de noticias de Angola)

http://www.verangola.net/va/pt/052017/CulturaEducacao/8311/

 

(Vídeo sobre Residência Artística na Colômbia)

https://www.instagram.com/p/BVDdmL0gLUW/

 

(Programa de Rádio - Rádio Uninorte – Colômbia)

https://soundcloud.com/user-493299567/el-artista-investigador-ruy-cezar-en-residencia-canibal

 

(Programa de Rádio – Vokaribe – Colômbia)

https://www.mixcloud.com/FundacionDivulgar/arte-y-migraci%C3%B3n-jean-fran%C3%A7ois-bocl%C3%A9-ruy-cezar-y-armando-ruiz/

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